quarta-feira

Apenas corrijam-me se algum dia esqueci-me de um só colchete pregar.
Não, não sou disto, pois atento-me sempre e com disposição, diga-se de passagem, a fazer todos os afazeres que me cabem nesta vida. Vida dura, digo eu, mas que me reserva um mar de brandura e prazeres após a morte. Lembro-me pequena a ouvir minha mãe falar de como se extraem leite das pedras: "Comigo sempre foi assim, sempre lutei muito para viver,esses pés calejados,estas mãos sofridas, estes cabelos brancos, minha filha, são o retrato da vida que te espera. Mas deixa estar, ao final ganhamos a recompensa por tanto sofrimento".
E continuava a levantar os móveis, a limpar os sapatos, fazer a comida, tirar o pó dos lustres, varrer as folhas do quintal... Morreu aflita com a poeira do asfalto recém-colocado na nossa rua.

Deste mal não sofrerei, pois já coloquei em todas as janelas de nossa residência um lindo plástico azul enfeitado de estrelinhas prateadas.